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30 de Agosto de 2010

Preço da carne suína se recompõe

O preço da carne suína paulatinamente vem se recompondo no mercado. Após 16 meses de crise, com queda no consumo por influência da Gripe A (ou Gripe H1N1), o produto vem reagindo positivamente. Para fomentar o aumento do consumo per capita interno em dois quilos, amanhã, no Rio Grande do Sul, será lançado oficialmente o Projeto Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, iniciativa da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Sebrae Nacional e Confederação Nacional da Agricultura. Segundo dados da ABCS, o consumo per capita nacional é de 13 quilos por ano, e está bem abaixo dos 20 quilos consumidos nos Estados Unidos e dos 45 quilos atingidos pelos países da União Europeia. O Brasil possui um rebanho de 40 milhões de cabeças, emprega 200 mil pessoas na cadeia produtiva da suinocultura e ocupa a quarta posição no ranking mundial. Para atingir a meta estabelecida pelo Programa, será necessário ampliar o plantel em 200 mil matrizes no campo, aumentando assim a produção atual que passa de três milhões de toneladas, das quais 600 mil toneladas são exportadas. Suinocultores e frigoríficos se reúnem às segundas-feiras, em Campinas, na Coordenadoria de Defesa Agropecuária — CDA, para negociar o preço da carne na Bolsa de Comercialização de Suínos do Estado de São Paulo “Mezo Wolters”. Na semana passada, foram comercializados 7.540 porcos vivos com preços entre R$ 56,00 e R$ 57,00 a arroba. O preço é negociado tendo como referência a média paga na semana anterior. De acordo com o suinocultor de Holambra Cornélio Van Han, que participa da bolsa por meio de uma cooperativa de produtores, o pregão reúne cerca de 15 representantes de criadores e a mesma quantidade de frigoríficos. Segundo ele, o preço está reagindo após um longo período de declínio consecutivo, quando a arroba chegou a R$ 28,00, metade do preço negociado hoje. Com a reação do setor, Van Han acredita que a arroba atingirá R$ 60,00 até o final do ano. O preço é negociado para o animal vivo com desconto de 20%, ou seja, para uma carcaça viva de 100 quilos, o comprador paga por 80 quilos. “Nos últimos dois meses, a valorização da carne de boi e de frango favoreceu o consumo interno de carne suína.” Núcleo Van Han calcula que a metade das matrizes paulistas está concentrada nas cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), além de Bragança Paulista, Salto e Itu. Holambra possui cerca de 15 grandes granjas, que atingem 144 mil leitões por ano, o que corresponde a uma produção anual de quase 13 toneladas. RAIO X - A suinocultura na RMC Americana: 14 cabeças Artur Nogueira: 2.529 cabeças Campinas: 9.103 cabeças Cosmópolis: 197 cabeças Engenheiro Coelho: 139 cabeças Holambra: 28 mil cabeças Hortolândia: 130 cabeças Indaiatuba: 2.339 cabeças Itatiba: 1.403 cabeças Jaguariúna: 1,3 mil cabeças Monte-Mor: 7.160 cabeças Nova Odessa: 1.082 cabeças Paulínia: 337 cabeças Pedreira: 785 cabeças Santo Antônio de Posse: 11.748 cabeças Santa Bárbara d’Oeste: 140 cabeças Sumaré: 565 cabeças Valinhos: 1,8 mil cabeças Vinhedo: 23 cabeças TOTAL: 100.858 CABEÇAS Fonte: Levantamento Cadastral das Unidades de Produção Agropecuária (Lupa) do Estado de São Paulo Melhoramento genético é realidade no rebanho Desafio é desenvolver alternativas para substituir o milho na alimentação O rebanho suíno brasileiro mudou muito nas últimas décadas. Resultado do melhoramento genético, cruzamento entre as raças rústicas nacionais e estrangeiras, além de manejo e nutrição mais adequadas, os porcos de hoje são híbridos que oferecem um desempenho superior em relação aos antecessores criados nos anos 1960. Na busca por mais carne e menos gordura, os produtores trouxeram novas raças para o Brasil, como a large white, landrace, duroc, berkshire, hampshire e wessex. As raças célticas, asiáticas e americanas modificaram a formação das brasileiras, antes dominadas por animais portugueses trazidos pelos colonizadores. A diversidade das raças gerou um novo patamar de desenvolvimento na suinocultura nacional. Uma nova assistência técnica, um controle sanitário adequado e o desenvolvimento da indústria frigorífica e de alimentos garantiram ao País uma proteína animal mais eficiente e contribuíram para o aprimoramento do grupo das raças brasileiras. Segundo o pesquisador do Instituto de Zootecnia (IZ), órgão ligado à Secretaria e Agricultura e Abastecimento, Fábio Enrique Lemos Budiño, os suínos das granjas tecnificadas engordam mais rapidamente, as matrizes apresentam o dobro de produtividade por ninhada e o abate ocorre na metade do tempo. Diferentemente do que ocorria há algumas décadas, compara o pesquisador, o tempo de engorda caiu para cinco meses, período em que os animais atingem entre 90 e 100 quilos com uma alimentação à base de ração, milho e soja. Os avanços na nutrição animal foram fundamentais para a diminuição do tempo de abate e para o aumento na qualidade da carne. “Hoje os suínos são mais magros e chegam a 90 quilos com apenas um centímetro de gordura, dependendo da ração e manejo adotados na granja”, compara Budiño. Outro avanço fundamental para a oferta do produto é o aumento do número de leitões por gestação, que passou da média de seis filhotes para 12 a 13 animais. O peso ideal de cada filhote é 1,4 quilo, com índice de mortalidade de apenas 2% durante a fase da lactação, que ocorre nos primeiros 21 dias do animal. Após esse período, o leitão é alimentado com ração farelada enriquecida. Desenvolver alternativas que substituam o milho e a soja na alimentação dos suínos, de acordo com o pesquisador do IZ, é o principal desafio dos criadores. O uso do feno de alfafa é defendido em duas dissertações de mestrado sobre Produção Animal Sustentável, no curso de pós-graduação oferecido pelo IZ. Budiño diz que a maior parte do custo de produção está na ração do animal, produto com preço ditado principalmente pelo milho, que compõe 70% da ração, além da soja. Alguns pequenos produtores começaram a utilizar o resíduo gerado na própria lavoura como parte da alimentação. Os novos insumos representam 10% da ração dada aos suínos. Uma das formas mais criativas de substituir os cereais é a utilização de resíduos das seções de hortifruti de supermercados e de indústrias alimentícias de lácteos e farináceos. O pesquisador do IZ ressalta que co-produtos industriais e resíduos de frutas e hortaliças não podem ser confundidos com lavagem, por não se tratar do lixo descartado por refeitórios e restaurantes. (SV/AAN) Alimento tem 75% menos gordura A carne suína que chega ao prato dos brasileiros contém 75% menos gordura que as carnes consumidas há 60 anos, e 27% menos de gordura saturada em relação a uma bisteca consumida nos anos 1980, por exemplo. Muitos cortes se tornaram tão magros quanto a carne de frango. É o caso do lombo, classificado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture — USDA) como extramagra por apresentar menos de cinco gramas de gordura, dois gramas de gordura saturada e 95 gramas de colesterol. Além de magra, a carne de suína pode trazer benefícios à saúde, pois é rica em proteína, vitaminas e minerais, como ferro, potássio, cálcio e fósforo, além de vitaminas do complexo B, devendo estar presente em qualquer dieta balanceada. A genética contribui para essas mudanças por meio da utilização de ferramentas de seleção e de estratégias de cruzamento entre raças, explica o geneticista da Topigs, empresa de melhoramento genético de rebanho porcino, André Costa. Para selecionar os melhores animais, os programas de melhoramento genético utilizam informações que vão desde o desempenho zootécnico antes do abate, como ganho de peso e conversão alimentar, e também dados sobre a qualidade de carcaça e de carne. Os programas incluem, em suas estratégias de seleção, o rendimento de carne magra, o pH e a cor, que são indicativos da qualidade. Já a perda de água durante o processamento é o indicativo do rendimento durante o preparo. Outra ferramenta bastante utilizada para melhorar a qualidade de carne é a genética molecular, a partir da identificação de genes que possam afetar as características de qualidade de carne do animal. Associado à genética, outro fator importante é o manejo, tanto de criação quanto de abate. A intensificação da produção na suinocultura tem acarretado o aumento da profissionalização da atividade. São melhorias que, unidas à adoção de rígidos padrões de condução e transporte da granja ao abatedouro, contribuem para a preservação de características da carne como maciez e suculência.