Notícias

18 de Abril de 2011

Olho em Cuba

Está no calendário da Organização Mundial do Comércio: em 2016, todos os sócios da OMC terão de reconhecer a China como uma economia de mercado - e, portanto, ao criar tarifas de importação punitivas, antidumping, terão de provar que as vendas chinesas são feitas com preços abaixo do "normal" no mercado chinês. Na prática, será mais difícil proteger concorrentes nacionais das mercadorias da China alegando que elas têm preços desleais. Estratégias para a China baseadas em medidas de proteção serão cada vez mais custosas, e arriscadas. Faltam cinco anos para esse momento. Há sete, o Brasil, o campeão mundial de medidas antidumping contra os chineses, prometeu reconhecer a China como economia de mercado, mas não regulamentou a medida até hoje. Quase 100 países já fizeram o reconhecimento, mas grandes parceiros, como EUA, União Europeia e Índia, não. Por isso, a China insistiu tanto e conseguiu tirar do governo brasileiro, em 2004, o reconhecimento formal - que, para ter efeito, precisaria ser regulamentado. Desde então, os chineses cobram a entrega da promessa brasileira, e a frustração com o descumprimento do acordo foi um dos motivos do relativo esfriamento das relações sino-brasileiras, após um começo animado no governo Luiz Inácio Lula da Silva. O ânimo mudou, nos últimos anos, porém, com a crise nos mercados desenvolvidos, que levou a China a voltar-se para os países emergentes, buscando maior articulação em instâncias internacionais, como as negociações do clima, ou mesmo o Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, antes visto sem Olho em Cuba O governo brasileiro vê com bons olhos as reformas econômicas que serão realizadas em Cuba, como a redução de 20% dos postos de trabalho no funcionalismo público, a abertura do mercado cubano para mais de 170 empresas, a maior autonomia das empresas estatais e a abertura ao capital estrangeiro. A ilha caribenha é geograficamente estratégica para o Brasil, pois servirá como rota aos produtos embarcados para a América do Norte, assim que terminar o embargo de 50 anos promovido pelos EUA ao país. Os sinais levam técnicos do governo e o setor privado a crer que a expectativa de investimentos brasileiros na ilha, até 2012, supere US$ 1,2 bilhão. Além da modernização do Porto de Mariel pela Odebrecht, com recursos do BNDES, e da construção de rodovias e ferrovias, empresários do setor sucroalcooleiro estudam a viabilidade de investir. Há também mercado para serviços de engenharia de infraestrutura e indústrias de alimentos. "Vemos com satisfação Cuba encontrar seu próprio caminho, mesmo sob esse embargo injusto", afirmou um diplomata. Outra meta do Brasil é aumentar o fluxo comercial (exportações mais importações) com Cuba. No ano passado, o valor registrado foi de menos de US$ 500 milhões. O Brasil vende, principalmente, óleo de soja, frango, café, milho, colheitadeiras e automóveis. As compras do país caribenho abrangem extratos de glândulas e outros órgãos, cimento, medicamentos, charutos e reagentes de laboratório.