Notícias

05 de Junho de 2011

Mídia Local repercute embargo Russo – Jornal A Gazeta

Rússia suspende importações Dezessete frigoríficos de Mato Grosso estão desabilitados a exportar carne bovina para a Rússia por tempo indeterminado. Deste total, 11 plantas estão em operação e outras 6 permanecem paralisadas, segundo informações do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo). A restrição imposta pelo governo russo entra em vigor no dia 15 de junho e inclui também indústrias processadoras de aves e suínos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), porém, não confirmou o número de plantas desabilitadas no Estado nestes segmentos. A proibição atinge grandes grupos como Marfrig S/A, JBS, Perdigão e Sadia (BR Foods). As unidades estão localizadas em Rondonópolis, Mirassol D"Oeste, Várzea Grande, Barra do Garças, São José dos Quatro Marcos, Paranatinga, Tangará da Serra, Pontes e Lacerda, Colíder e Nova Xavantina, entre outros. Além de Mato Grosso, unidades frigoríficas do Paraná e do Rio Grande do Sul estão na lista de plantas embargadas. Em todo país, a restrição atinge 89 unidades. Produtores e empresários mato-grossenses esperam que o governo federal se posicione e conteste o embargo, já que o mercado russo representa um dos principais compradores da carne brasileira no mercado internacional. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e tabulados pela Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) apontam que Mato Grosso exportou US$ 391,5 milhões em carnes (aves, suínos e bovinos) no primeiro quadrimestre deste ano, alta de 25% sobre os US$ 311,2 milhões contabilizados no mesmo período de 2010, considerando todos os países importadores. A carne bovina tem ma maior participação com US$ 247,8 milhões, o equivalente a 63% do total. As aves somaram US$ 120,3 milhões e os suínos US$ 20,069 milhões em exportações no período. Já o mercado russo respondeu por 20% dos embarques de carnes registrados de janeiro a abril deste ano, com a compra de US$ 81 milhões. O montante é 40% superior ao contabilizado em 2010 quando somou US$ 57,762 milhões. "O Ministério tem que assumir essa responsabilidade e argumentar, porque não é possível que todos os frigoríficos estejam inadequados", reclama o superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari. "A indústria brasileira mantém padrão acima da média", complementa ao lembrar que essa prática adotada pelo governo russo já se tornou corriqueira, sendo buscada como alternativa para obter vantagem comercial, o que provoca impacto direto sobre o setor produtivo. "E quanto mais o governo demora para agir, pior se torna o prejuízo". O presidente da Fiemt, Jandir Milan, argumenta que esta não é a primeira vez que a Rússia impõem restrição a Mato Grosso e ela está relacionada aos preços. "Sempre que a carne estadual está mais cara o governo russo faz uma restrição", diz ao estimar que a medida não deve durar mais que 60 dias. Impacto minimizado - Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos de Mato Grosso (Sindifrigo), Luiz Antônio Freitas, o embargo russo não irá mudar drasticamente o cenário atual. "A maioria destas plantas, cerca de 70% delas, já estava desabilitada, ou por razões sanitárias ou por paralisação da atividade". É o caso do frigorífico Pantanal, pertencente a Freitas e que está fora de operação desde meados de 2010. "Mas, é claro que não deixa de ser ruim no contexto, porque já temos um excedente de produção no mercado interno que não assimila toda produção de carne do país". Segundo informação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o governo russo alegou que as condições sanitárias atuais das 85 indústrias brasileiras não atendem ao padrão exigido pelo país e por isso exige aumento do controle laboratorial para segurança veterinária e sanitária dos produtos. A exigência foi apresentada depois de o governo russo alegar que realizou teste em mais de 260 carregamentos de carnes contendo parasitas e bactérias de diferentes tipos, circunstância nunca comunicada oficialmente ao governo brasileiro. Entre os dias 16 e 18 de maio, uma missão brasileira esteve na Rússia, chefiada pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), quando foram apresentadas todas as informações técnicas solicitadas. Na época, foi marcada uma nova reunião para a segunda quinzena de junho em Moscou, quando se prosseguiria com os entendimentos. Por meio de nota oficial, o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Francisco Jardim, afirma que recebeu com estranheza a notificação do governo russo. "Pela segunda vez a notificação chega sem nem mesmo ter sido enviada ao governo brasileiro o relatório técnico das inspeções russas feitas no Brasil". O secretário disse que nesta quinta-feira (2), o pedido de reenvio dos relatórios foi reiterado ao governo russo. Na próxima segunda-feira (6), está agendada reunião com os presidentes das associações e empresas exportadoras de carnes do Brasil para avaliar impacto da medida. Mercado local - A oferta de carne bovina no mercado interno está maior neste ano por causa da valorização do real frente à moeda americana. Com o embargo russo à carne brasileira, a oferta no mercado doméstico irá aumentar ainda mais, sinalizando retração dos preços no atacado e varejo. "Não sei como estão os estoques dos frigoríficos, mas se precisarem vender mais rápido nos próximos dias terão que baixar preço", avalia o diretor da Associação de Supermercados de Mato Grosso (Asmat), Altevir Magalhães. Para o presidente do Sindifrigo, a saída da Rússia como destino exportador da carne brasileira não é suficiente para pressionar preços no mercado interno. "Mas é claro que agrava o quadro porque já não vínhamos conseguindo equalizar os preços em função do câmbio". No caso da comercialização de carne suína, o presidente da Associação de Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues, entende que a restrição russa torna a situação caótica. "Os russos importam entre 55% e 60% da carne suína brasileira e agora todas as grandes exportadoras estão desabilitadas". Explica ainda que em Mato Grosso os suinocultores estão tendo prejuízo médio de R$ 80 por animal. "Estávamos vendendo (a carne) ao preço de R$ 1,80 o quilo na semana passada e agora já caiu para R$ 1,60. E o nosso custo de produção por quilo de carne produzido é de R$ 2,25". Presidente da Associação Mato-grossense dos Criadores de Aves (Amav), Tarcísio Schrueter, também critica a atitude do governo russo. "Quando há problemas com o câmbio, a Rússia começa alegar problemas sanitários". Diante do embargo russo, a direção do grupo Marfrig fez pronunciamento ao mercado e por meio de nota afirmou que as exportações da companhia para a Rússia no primeiro trimestre deste ano representou 10,7% de todo volume comercializado com o mercado externo. Isso correspondeu a 4,7% da receita consolidada. (Colaborou Fabiana Reis)