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08 de Setembro de 2009

Escassez de soja faz indústria antecipar paradas técnicas

Se sobrou milho no mercado interno em 2009, a ponto de produtores de Mato Grosso terem decidido estocar o grão a céu aberto, a oferta de soja está ainda mais apertada que o usual para esta época do ano. O cenário fez com que muitas indústrias antecipassem em alguns meses as paradas de suas plantas de processamento da oleaginosa, usualmente realizadas no auge da entressafra, entre o último trimestre do ano e janeiro do ano seguinte. As paradas das indústrias costumam se estender por 30 a 40 dias. Na falta de soja para processar, as empresas utilizam esse intervalo para manutenção das esmagadoras. Neste ano, contudo, a interrupção dos trabalhos ocorre como resposta à escassez de soja no mercado, mas também como forma de administração dos estoques do grão que já estão nas mãos das indústrias. Entre junho e julho, em intervalos médios de uma semana a dez dias, o esmagamento foi interrompido nas plantas da Comigo em Rio Verde (GO), da Brejeiro em Orlândia (SP), da Clarion em Cuiabá e nas unidades da ADM em Joaçaba (SC), Uberlândia (MG), Rondonópolis (MT) e Campo Grande, apurou o Valor. A Bunge havia programado para este feriado prolongado o início de um período de interrupção de esmagamento em sua planta de Campo Grande. Não por acaso, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) informou na sexta-feira (04/09) que foram processadas 2,135 milhões milhões de toneladas de soja em julho, o volume mais reduzido para o mês de julho desde 2000. Em Mato Grosso, maior Estado produtor de soja do País, foram colhidas 17,44 milhões de toneladas do grão na safra 2008/09, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea). No momento, menos de 3% desse volume ainda estava disponível para venda às indústrias, segundo Seneri Paludo, superintendente da entidade. "O aperto [na oferta] é normal, mas está bem maior neste ano", diz. Parte dessa maior que a habitual escassez de soja ocorre por conta da quebra da safra argentina. O país vizinho teve perdas expressivas em suas lavouras por ter enfrentado na temporada 2008/09 sua maior seca em pelo menos 50 anos. Isso fez com que o Brasil tivesse que responder por parte do abastecimento de soja que originalmente ficaria a cargo da Argentina. O ritmo de exportações acelerou-se no primeiro semestre - em abril, maio e junho, os embarques brasileiros do grão bateram três recordes mensais sucessivos. A China, grande vetor da demanda pelo grão, não reduziu a voracidade de suas compras, o que também ajuda a explicar a escassez ainda mais acentuada de soja no mercado interno - e a antecipação das paradas das esmagadoras. "Em julho e agosto eles diminuíram o ritmo de compras no Brasil, mas aumentaram nos Estados Unidos", diz Daniele Siqueira, analista da Agência Rural. De forma antecipada, os chineses compraram, até o dia 27 de agosto, 8,8 milhões de toneladas da soja a ser colhida na safra 2009/10, segundo dados apresentados pela analista. Há um ano, esse volume de compras havia sido de 4,6 milhões de toneladas. Outra evidência de aperto na oferta de soja é a disparada do chamado prêmio de exportação. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o prêmio para embarques em Paranaguá atingiu, em agosto, US$ 2,50 por bushel para entrega no mesmo mês. Foi o nível mais elevado já atingido pelo prêmio desde que o Cepea iniciou a série histórica do indicador. Na última quinta-feira, o prêmio para entrega de soja em setembro chegou a US$ 1,80, exatamente o triplo do registrado um ano antes - quando, reitere-se, também vivia-se a entressafra. O prêmio é pago como uma forma de "estímulo" à exportação e varia conforme a oferta do grão: quanto menos soja à disposição para vendas, maior o prêmio. Ele tem como referência a cotação do grão em Chicago. Na última sexta-feira, os contratos de soja para novembro recuaram 19,50 centavos de dólar, para US$ 9,22 por bushel (medida que equivale a 27,2 quilos). Também em virtude da pouca disponibilidade de soja no mercado interno, ganha força um quadro que já se verifica há pelo menos dois meses, o "descolamento" dos preços nos mercados internacional e doméstico. Na bolsa de Chicago, referência internacional para a formação de preços agrícolas, a cotação dos contratos com vencimento mais longo está abaixo da dos contratos mais curtos. No mercado interno, os preços do grão apontam para cima. Em seu relatório mais recente sobre a oferta e demanda de grãos, de agosto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou em 24,6 milhões de toneladas as exportações de soja em grão no ciclo 2008/09. "Até agosto, já exportamos mais de 25 milhões de toneladas, e ainda faltam quatro meses para o ano acabar", diz Eduardo Godói, da Agência Rural.