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03 de Novembro de 2009
Crise bovina: situação de frigoríficos mantém pecuária pressionada em MT
Quanto mais dura a crise que se abateu sobre alguns dos grandes frigoríficos do país desde o fim do ano passado, mais os pecuaristas de Mato Grosso, Estado que reúne um dos maiores rebanhos bovinos do país, perdem renda e poder de barganha. Em primeiro lugar porque, ao pedirem recuperação judicial, empresas como Independência, Quatro Marcos e Arantes conseguiram manter congeladas dívidas que, apenas com os criadores mato-grossenses, chegam a cerca de R$ 120 milhões. Mas, também, por causa da redução dos abates derivada da suspensão das atividades em diversas unidades, que fez crescer a força dos frigoríficos em operação nas negociações de preços.
Levantamento da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) mostra que, das 39 plantas frigoríficas do Estado registradas no Serviço de Inspeção Federal (SIF), 11 estão paradas desde o início de 2009. Assim, a capacidade local de abate, que normalmente chega a quase 38 mil cabeças por dia, está praticamente 9 mil cabeças mais magra. "O primeiro frigorífico a fechar no Estado foi o Quatro Marcos, em dezembro de 2008. Depois vieram os casos da Arantes e do Independência, que é o mais grave. A situação está muito complicada, mas estamos mobilizados e não vamos abrir mão de receber tudo o que nos devem", afirmou Luciano Vacari, superintendente da Acrimat.
Independência e Quatro Marcos já realizaram mais de uma assembleia de credores, em São Paulo, em busca de aval para suas recuperações. Graças em grande parte a mobilização liderada pela Acrimat, que se fez representar em todas elas, não houve acordo. Normalmente as empresas propõe abatimentos das dívidas e prazos mais longos para quitação parcelada, mas os criadores querem pagamento integral e de uma só vez, com juros e correção monetária. Com a pressão, o Independência já melhorou sua proposta inicial.
"A postura dos pecuaristas está dificultando as negociações. As empresas que conseguiram aprovar seus planos têm de agradecer, porque agora está complicado", diz um advogado que acompanha os casos ainda em curso. "Nos últimos dez anos, vários frigoríficos quebraram sem dar satisfação aos pecuaristas, mas também passamos por uma profissionalização não vamos abrir mão dos nossos direitos", afirma Vacari.
O imbróglio envolvendo o Quatro Marcos tem uma particularidade. Cinco unidades de abate e desossa do frigorífico foram arrendadas há alguns meses pela JBS, o que garante demanda por matéria-prima em seus entornos, mas não o pagamento do endividamento.
Segundo levantamento da Acrimat, a situação mais grave para os criadores é no noroeste mato-grossense, que na divisão da entidade é formada por oito municípios e reúne mais de 2 milhões de cabeças de gado. Ali há apenas um frigorífico, que pertence ao Independência e está com as atividades suspensas. Com dívidas totais da ordem de R$ 3 bilhões, o Independência é alvo frequente de boatos que dão conta que ele pode ser comprado por algum concorrente saudável.
No nordeste do Estado, com 22 municípios e rebanho superior a 6 milhões de cabeças. Há na região seis frigoríficos, mas quatro estão fechados. Nesse contexto, a arroba que vale R$ 68 em outras áreas, no nordeste não passa de R$ 65.