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03 de Abril de 2020
COVID-19: O que o suinocultor precisa saber
A COVID-19
A família de vírus chamada Coronaviridae possui espécies de vírus que podem causar doença em humanos e animais. Alguns Coronavírus (CoV) são zoonóticos (transmissíveis entre animais e humanos), entretanto, a grande maioria não é. Como exemplo, o vírus da PED (Diarreia Epidêmica dos Suínos) e TGE (Gastroenterite Transmissível), ambos pertencentes à família Coronaviridae, acometem apenas suínos, nos quais causam doenças altamente contagiosas que cursam com diarreia provocando perdas por mortalidade de leitões e redução de desempenho zootécnico. O PEDV foi identificado em suínos nos Estados Unidos em 2013, e em vários outros países, e desde então tem sido notícia devido as perdas econômicas que causa. Já em humanos, vários Coronavírus são conhecidos por causar infecções respiratórias brandas, como o resfriado comum, e até formas respiratórias mais severas, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV). Em dezembro de 2019, um novo CoV causador de doença respiratória em humanos foi identificado em Wuhan, na China. Esse vírus passou a ser chamado de SARS-CoV-2, cuja doença foi denominada de COVID-19. Em março de 2020, após a ampla disseminação do SARS-CoV-2 em vários países, em diferentes continentes, acometendo rapidamente um grande número de pessoas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o surto da doença como pandemia. O vírus é transmitido de pessoa a pessoa por meio de gotículas expelidas pelo nariz ou boca do indivíduo infectado, quando este tosse ou exala o ar. Estas gotículas podem se depositar em superfícies e objetos próximos à pessoa infectada. Outras pessoas podem se infectar ao inalar essas gotículas exaladas ou ao tocar superfícies e objetos contaminados com o vírus, e depois levar a mão aos olhos, nariz ou boca. Os principais sintomas são febre, fadiga e tosse seca.
O suinocultor pode se infectar com o COVID-19 pelo contato com animais?
O vírus da COVID-19 é essencialmente um vírus de humanos, transmitido entre humanos. O SARS-CoV-2 continua se disseminando amplamente entre as pessoas e novos estudos, sobre as características do agente e hospedeiros que este pode infectar, demostraram que suínos e outros animais de produção não se infectam com o vírus. Além disso, até o momento nenhuma infecção por coronavírus de suínos foi relatada em humanos. Por isso, a real possibilidade de infecção em humanos durante o trabalho na granja é pelo contato direto com pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2. Uma observação importante é que uma grande proporção de pessoas infectadas pode apresentar sintomas muito leves, particularmente em estágios iniciais da infecção. Desta forma, um funcionário infectado, mas com tosse leve, pode liberar o vírus através de gotículas e infectar outras pessoas ou contaminar objetos e superfícies. Por isso é importante manter uma distância mínima de um metro de uma pessoa doente (apresentando tosse e espirros) e também observar as medidas de biosseguridade interna e externa nas granjas (Morés et al., 2017), pois o vírus pode permanecer viável em objetos e superfícies por horas, e até dias dependendo do material (por exemplo: SARS-CoV-2 pode permanecer viável em plástico e aço inoxidável por 72 horas, dependendo das condições ambientais e no papelão por 24 horas).
Como a COVID-19 afeta a rotina de trabalho do suinocultor?
Os suinocultores exercem um papel preponderante na produção de alimentos para o Brasil e para o mundo. A manutenção da sua atividade garante não só a continuidade do abastecimento de proteína animal à população, como também preserva a garantia de renda das famílias envolvidas e de todos os segmentos que compõem essa cadeia. A pandemia de COVID-19 não impede o prosseguimento das atividades da suinocultura. As pessoas precisam seguir as orientações do Ministério da Saúde, adotando novos hábitos e cuidados, para minimizar o risco de infecção pelo vírus. Isto se aplica ao suinocultor durante sua rotina diária de trabalho na granja. Como o maior risco de infecção pelo vírus da COVID-19 é pelo contato entre as pessoas, as medidas de proteção precisam ser direcionadas aos colaboradores que tenham acesso à granja, como funcionários da granja, técnicos, motoristas e prestadores de serviço, como as equipes de vacinação.
O que o produtor pode fazer para manter suas atividades na granja e ao mesmo tempo se proteger da infecção ou evitar a disseminação do vírus da COVID-19?
• Em primeiro lugar, manter-se informado sobre atualizações disponíveis sobre a pandemia pelo SARS-CoV-2 divulgadas pelas autoridades de saúde local ou nacional (Brasil, 2020b). Ter em mente que os suínos não são fonte de infecção do COVID-19 e sim outras pessoas que estejam infectadas, apresentando ou não os sintomas da doença. Sendo assim, é importante restringir o acesso de pessoas à granja ou ao ambiente de produção.
• Estar atento às medidas de biosseguridade da granja (externa e interna). Estas medidas também contribuem para a sua segurança, à medida em que podem evitar o contato com pessoas que estejam infectadas, ou contato com materiais ou insumos contaminados com o vírus. É importante implementar a desinfecção rotineira de materiais que entram na granja.
• Durante a execução do trabalho, manter uma distância mínima de um metro de outras pessoas que estejam espirrando ou tossindo. O vírus da COVID-19 está presente em gotículas liberadas do nariz e boca da pessoa infectada. Se você estiver muito próximo, você pode aspirar o vírus presente nas gotículas, caso a pessoa esteja infectada.
• Medidas de higiene pessoal. Lave as mãos frequentemente e atentamente com água e sabão. Use roupas e calçados próprios da granja durante a execução do trabalho. Quando possível, tome banho antes do acesso à granja. Ao retornar a sua residência, retire os sapatos, roupas e lave as mãos com água e sabão, e tome banho imediatamente. Roupas e sapatos usados devem ser higienizados. Limpe com água e sabão, ou desinfetante, todas as superfícies frequentemente tocadas, como maçanetas de portas, chaves, interruptores de luz, celulares, teclados de computador, etc.
• Esteja atento aos seus hábitos: evite tocar olhos, nariz e boca, quando estiver fora de casa. Esta é uma das formas de contrair o vírus. Devido a escassez o uso de máscara facial deve ser priorizado aos indivíduos que apresentem sintomas da doença, objetivando reduzir a propagação do vírus por meio de gotículas exaladas. Pratique a higiene respiratória: estando ou não doente, cubra a boca e nariz ao tossir com o braço ou com um lenço de papel descartando-o no lixo imediatamente. Em seguida, lavar bem as mãos com água e sabão.
• Atenção ao estado geral de saúde. Suinocultores e colaboradores do grupo de risco (idosos ou portadores de comorbidades –, como diabetes, hipertensão ou cardiopatia isquêmica) devem reavaliar a necessidade de continuar trabalhando, sendo recomendado que se resguardem ou sejam alocados em outras atividades sem contato com pessoas. Pessoas que apresentarem sinais respiratórios ou mal-estar geral devem permanecer em casa, sem ir à granja. Em caso de suspeita de infecção pelo vírus da COVID-19, ao apresentar sintomas como febre, tosse e dificuldade respiratória permanecer em casa, e entrar em contato com a Unidade de Saúde em seu município para saber como proceder. No site do Ministério da Saúde (Brasil, 2020a) pode ser acessada uma lista de hospitais e postos de saúde que prestam atendimento em seu estado/município.
• Vacina da gripe (influenza). A vacinação contra o vírus influenza não evita a infecção pelo COVID-19, mas evita que a pessoa tenha outros tipos de doenças respiratórias. Busque orientação de como se vacinar em segurança. Ligue 136 ou entre em contato com a Secretaria de Saúde da sua cidade.
Lembre-se
O trabalho na granja continua o mesmo. Novos hábitos implementados pelo suinocultor e seus colaboradores envolvidos na atividade é que farão diferença no enfrentamento da pandemia de COVID-19 e na preservação de sua segurança. Bom trabalho!
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Coronavírus. COVID-19. O que é coronavírus? (COVID-19). Brasília, DF, 2020a. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/. Acesso em: 31 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Coronavírus. COVID-19. Últimas notícias. Brasília, DF, 2020b. Disponível em: https://saude.gov.br/. Acesso em: 31 mar. 2020.
MORES, N.; CARON, L.; COLDEBELLA, A.; BORDIN, L. C. Biosseguridade mínima para granjas de suínos que produzem animais para abate. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2017. 38 p. (Embrapa Suínos e Aves. Documentos, 185).
OIE. Organização Mundial para a Saúde Animal. França, 2020. Disponível em: www.oie.int. Acesso em: 26 mar. 2020.
SAIF, L. J.; PENSAERT, M. B.; SESTAK, K.; YEO, S. G.; JUNG, K. Coronaviruses. In: ZIMMERMAN, J. J.; KARRIKER, L. A.; RAMIREZ, A.; SCHWARTZ, K. J.; STEVENSON, G. W. (Ed.). Diseases of swine. 11th ed. Ames: Willey Blackwell, 2019. p. 488-523.
SIM, S. W.; MOEY, K. S. P.; TAN, N. C. The use of facemasks to prevent respiratory infection: a literature review in the context of the Health Belief Model. Singapore Medical Journal, v. 55, n. 3, p. 10-167, 2014. DOI: 10.11622/smedj.2014037
SONG, D.; MOON, H.; KANG, B. Porcine epidemic diarrhea: a review of current epidemiology and available vaccines. Clinical and Experimental Vaccine Research, v. 4, n. 2, p. 166-176, 2015. DOI: 10.7774/cevr.2015.4.2.166.
WHO. Emergencies. Coronavirus disease outbreak (COVID-2019). Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic. Disponível em: www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019. Genebra, 2020. Acesso em: 26 mar. 2020.