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04 de Agosto de 2010

Começa 9º Seminário Internacional Agroceres de Suinocultura em PE

Suinocultura cresce na China e país mira autossuficiência. Para Gerald Shurson, da Universidade de Minnesota, China terá que continuar a recorrer às importações para atender demanda interna. A suinocultura chinesa será um dos destaques da programação do 9º Seminário Internacional Agroceres de Suinocultura que começa amanhã, dia 4 de agosto, em Porto de Galinhas (PE) A suinocultura tecnificada vem crescendo a passos largos na China. Até 2001, 74% da produção chinesa vinha de pequenas granjas ou de criações de fundo de quintal. Apenas 5% das propriedades suinícolas do país podiam ser consideradas especializadas, com mais de três mil cabeças. Hoje essa realidade é outra. As granjas de médio porte representam 53% da suinocultura chinesa. A proporção de granjas grandes, privadas ou do governo, subiu para 12%, uma marca nada desprezível para um país como a China. Todo esse avanço tem sido patrocinado pelo governo chinês, que na última década vem subsidiando programas de melhoramento genético e o desenvolvimento da indústria de processamento. A China considera estratégico ter uma suinocultura forte e tem claros objetivos de autossuficiência na produção de carne suína. Apesar dessa evolução, será a China capaz de atingir esse objetivo? Em quanto tempo? Que implicações isso traria para as pretensões do Brasil no mercado chinês? Essas e outras perguntas serão respondidas durante o 9º Seminário Internacional Agroceres de Suinocultura pelo especialista Gerald C. Shurson, um dos palestrantes do evento. Professor de Suinocultura e Nutrição do Departamento de Zootecnia da Universidade de Minessota, nos EUA, Shurson é um grande conhecedor da suinocultura chinesa. Nos últimos 12 anos tem se dedicado à pesquisa do DDGS de milho (subproduto da indústria norte-americana de etanol) e suas aplicações na dieta de suínos. Por conta desses estudos se tornou consultor do U.S. Grains Council (Conselho de Grãos dos EUA) e tem rodado o mundo participando de seminários e workshops. “Meu foco principal tem sido o mercado asiático e, mais recentemente, a China”, conta Shurson. “Por conta do meu trabalho tenho visitado diferentes regiões do país e atualmente sou orientador de vários alunos de doutorado na China que estudam suinocultura”. China em foco - Em sua palestra no Seminário da Agroceres, Shurson vai traçar um panorama da atual suinocultura chinesa, destacando sua indústria e seus principais players. Também falará sobre os desafios que o setor suinícola chinês terá de enfrentar para continuar avançando, sobretudo a dependência externa de grãos e os problemas na área sanitária. Na entrevista a seguir, Shurson fala sobre a evolução da suinocultura chinesa na última década, elenca os entraves para o desenvolvimento do setor suinícola chinês e comenta a intenção do país em tornar-se autossuficiente na produção de carne suína. Confira. 1. O senhor poderia falar um pouco sobre o atual estágio de desenvolvimento da suinocultura na China? Gerald C. Shurson - Segundo o Ministério da Agricultura da China, em 2001, 74% da produção chinesa vinha de pequenas granjas ou criação de fundo de quintal (entre uma e 50 cabeças) enquanto 21% das granjas do país eram empresas familiares de médio porte (de 50 a 3000 cabeças), e apenas os 5% restantes poderiam ser consideradas granjas especializadas com mais de três mil cabeças. Atualmente a proporção de granjas grandes, privadas ou do governo, subiu para 12%. As granjas de tamanho médio representam 53% da suinocultura na China e as pequenas propriedades familiares “de fundo de quintal” representam apenas 35% da suinocultura chinesa. Sendo assim, como em muitos outros países, os tamanhos das granjas suínas estão crescendo bastante e substituindo os pequenos produtores de subsistência. 2. O governo chinês tem investido bastante na suinocultura nos últimos anos, até mesmo subsidiando programas de melhoramento genético e desenvolvimento da indústria de processamento. Em sua opinião, quais são os principais entraves para o desenvolvimento da suinocultura na China? Shurson - Existem inúmeros obstáculos. Os principais - sem ordem de importância - são: problemas com biossegurança, controle sanitário e diagnóstico; risco de flutuações nos preços de mercado e importações de carne suína; limitações no capital para investimentos; controle e orientações muito fracos por parte do governo; falta de instalações adequadas para o processamento; segurança dos alimentos – falta de um sistema de rastreabilidade; necessidade de mais atenção ao bem-estar animal; produtividade baixa quando comparada à de países mais desenvolvidos; poluição ambiental; variabilidade na qualidade de projetos de instalações, layout e materiais de construção. 3. A forte expansão econômica na China e o intenso processo de urbanização em marcha no país fizeram a demanda chinesa por alimentos explodir. Ao mesmo tempo, o consumidor chinês está migrando para uma dieta mais rica em proteínas. Na opinião do senhor a China vai precisar aumentar sua importação de carnes no curto e médio prazo? Shurson - Os consumidores chineses têm agora uma renda maior para gastar com alimentos e, consequentemente, estão consumindo mais carne do que nunca. O governo chinês parece estar mais interessado em estimular a produção interna de proteína animal do que em elevar sua importação de carnes. No entanto, devido às limitações na área de terra cultivável e às instabilidades climáticas, que dificultam a produção de grãos, a China vai ter que, cada vez mais, importar grãos e outras matérias-primas para ração animal e, pro extensão, para que sua indústria local consiga atender a essa demanda crescente. Essa ênfase na produção interna em detrimento da importação direta de carne – mesmo que às custas da compra de grãos de outros países – se justifica pelo grande número de empregos que a indústria chinesa de proteína animal gera. Porém, se essa tendência de crescimento no consumo de proteína animal se mantiver, acredito que a China será forçada a importar carnes para atender a sua demanda interna, que ficará cada vez mais difícil de ser suprida apenas com a produção doméstica.