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16 de Setembro de 2009

Com Seara, Marfrig protagoniza "BRF 2, A Missão"

Se a Cargill fez um bom negócio ao se desfazer de uma divisão endividada e que não integrava o seu principal negócio (a comercialização e o processamento de grãos), o Marfrig, adquirindo a Seara, ganhou porte para competir em pé de igualdade nos mercados interno e externo com a Brasil Foods (BRF), empresa resultante da associação entre Perdigão e Sadia, disseram especialistas. "Os caras estão criando a BRF 2, A Missão, porque é muita aquisição ao mesmo tempo. Você já viu o que é ter a Seara, a número 3 em frango e suíno (no Brasil), somando isso ao que o Marfrig já comprou?", indagou Osler Desouzart, consultor do setor e ex-executivo de Sadia e Perdigão. A diferença em relação à BRF, notou ele, é que este seria um negócio mais bem estruturado, considerando que o Marfrig, embora menor que a Brasil Foods, já conta com uma boa estrutura de produção no exterior, além de importantes ativos em carne bovina. "Nesse aspecto, a BRF está atrasada. Ela não tem operações de produção internacional, a Marfrig tem: comprou empresas italianas, argentinas, uruguaias. O próprio grupo JBS tem presença de produção. A única que não tem é a BRF", ponderou o consultor. Nos últimos anos, o Marfrig se tornou uma das mais diversificadas empresas de proteína animal do país, com atuação até em ovinos, a partir de uma plataforma inicial de produtor e exportador de produtos bovinos, com aquisições, além do Brasil, na Argentina, Uruguai e Europa. Entre as compras, destaca-se a dos ativos do grupo OSI, em 2008, no Brasil e no exterior, especialmente no Reino Unido, num negócio de 680 milhões de dólares. Com essas e outras, a receita líquida do Marfrig quase dobrou para 2,4 bilhões de reais no segundo trimestre de 2009, em relação ao mesmo período do ano passado. Corretoras como a Ativa e a Brascan avaliaram como positivo o negócio, lembrando que a Seara está alinhada com a estratégia de diversificação do Marfrig. "Com isso, a empresa se consolida como o segundo maior player de aves e suínos brasileiro e um dos maiores do mundo", afirmou a Ativa, ressalvando apenas o fato de haver um potencial de pressão no curto prazo para o Marfrig, devido à possibilidade de emissão de ações. A Brascan considerou atrativo o valor do negócio, de 900 milhões de dólares, incluindo dívidas de quase 200 milhões de dólares. "Adicionalmente, acreditamos que o momento da aquisição seja bastante favorável para a Marfrig, visto que a empresa ganha porte para competir e ganhar mercado da Brasil Foods, firmando-se como o segundo maior player no mercado interno e de exportação de aves e suínos e um dos maiores do mundo". SALTO AO EXTERIOR O negócio entre Marfrig e Seara ainda precisa ser aprovado por órgãos reguladores no Brasil e exterior, assim como a BRF aguarda aprovação. Mas uma consolidação dessas empresas vai deixar na mão de duas companhias cerca de 40 por cento do abate de frangos do Brasil, quase todo o mercado de perus. Marfrig e Seara, juntas, teriam hoje uma capacidade de abate de mais de 800 milhões de frangos ao ano, cerca de metade da BRF, e um poder de abate de 3,6 milhões de suínos, contra 10 milhões da empresa resultante da Perdigão e Sadia. "Digo que isso vai concentrar a tal ponto que três empresas vão deter mais de 50 por cento em cada mercado nacional, e quando elas detiverem mais de 50 por cento, é mais negócio internacionalizar do que buscar 1 ponto percentual a mais na sua empresa", destacou o analista, ponderando também que o Brasil, quarto mercado mundial de carnes, é um dos locais com maior potencial para crescimento. E, fortalecidas, não bastará a essas empresas, que já teriam mais de 50 por cento das exportações brasileiras de carne de frango, contar apenas com uma plataforma exportadora. "Vai ter que ter plafaformas de produção, terminação e de distribuição fora do Brasil, para continuar sendo um player global", disse Desouzart, lembrando que junto com a Seara o Marfrig comprou quotas de exportação/importação da Cargill a partir do Brasil para diversos países. CARGILL A Cargill informou por e-mail que estava "no meio de uma profunda revisão da estratégia do plano de negócios da Seara quando o Marfrig manifestou grande interesse em adquirir a operação. Mas a gigante norte-americana do setor agroindustrial reiterou que a venda não altera seu compromisso de crescimento contínuo em seus negócios de carne em diversas regiões do mundo. Mas o analista Desouzart, da OD Consulting, destacou que essa não é a primeira vez que ela sai do negócio de carnes no Brasil, tendo feito um bom negócio ao vender a Seara, adquirida em 2005. "Uma empresa como Cargill, o núcleo do negócio é grão, uma operação de frango e suíno é estranho no ninho..." "Agora também pode ter sido uma bela jogada da Cargill, primeiro uma jogada financeira. Ela comprou aquele asset pra revender, porque a Seara estava praticamente nas mãos da Tyson", comentou o analista.