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20 de Agosto de 2024

Carne suína: Rússia entra na China e disputa mercado com Brasil

Na esteira das tensões comerciais entre a União Europeia e o governo de Pequim, os exportadores russos da proteína pretendem capturar, nos próximos anos, 10% do mercado chinês de importação

Na esteira das tensões comerciais entre a União Europeia e a China, os exportadores da Rússia de carne suína pretendem capturar, nos próximos anos, 10% do mercado chinês de importação da proteína, segundo reportagem da agência Reuters divulgada nesta segunda-feira (19/8).

Os embarques russos partirão praticamente do zero, pois, até o início deste ano, a Rússia não estava autorizada a negociar a sua carne suína ao mercado da China. Porém, em fevereiro/24, Pequim liberou os embarques da proteína ao mercado chinês, setor que movimenta US$ 3,5 bilhões em importações, com participação de 51% da União Europeia (UE).

Segundo a Reuters, recentemente, a UE estabeleceu tarifas provisórias de até 37,6% sobre carros elétricos importados da China para combater o que o bloco diz serem “subsídios injustos”. Por sua vez, a China tem criticado a medida como protecionista e sustenta que não tem base em critérios objetivos. Diante do impasse, Pequim iniciou investigações antidumping sobre importações de carne suína envolvendo empresas dinamarquesas, holandesas e espanholas.

“Para nós, essas tensões comerciais representam uma chance de mostrar nossa competitividade no mercado chinês”, disse, à Reuters, o chefe do Sindicato Nacional de Criadores de Suínos da Rússia, Yuri Kovalyov, acrescentando que a meta da Rússia é “fornecer 10% das importações de carne suína da China dentro de três a quatro anos”.

Porém, continua a reportagem, a Rússia enfrentará forte concorrência de outros grandes exportadores de proteína suína, como o Brasil, além da crescente produção chinesa. A demanda por carne suína também está caindo na China, embora o país ainda consuma cerca de metade da carne suína do mundo, ou 53-54 milhões de toneladas por ano.

4º Maior
Neste ano, a produção de carne suína russa deve atingir 5,2 milhões de toneladas, ante 4,9 milhões de toneladas em 2023. A produção atual faz da Rússia o quarto maior produtor, atrás da China, da UE e dos Estados Unidos – e praticamente empatado com o Brasil, de acordo com a Reuters.

As importações de carne suína e vísceras da China caíram 27,3% em relação ao ano anterior, para 1,11 milhão de toneladas no primeiro semestre de 2024, segundo os dados do governo chinês.

Yuri Kovalyov prevê que cerca de 50.000 a 60.000 toneladas de carne suína russa serão enviadas à China este ano, 3% do total das importações da China, conforme previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Grande parte das importações da China da UE são vísceras, como orelhas e pés. A demanda doméstica russa por vísceras é baixa, assim como na UE.

As empresas privadas russas autorizadas a vender carne suína para a China – Miratorg, Velikoluksky Pig Breeding Complex e Rusagro – estão entre os cinco maiores produtores de carne suína da Rússia. “Estimamos que exportaremos 10.000 toneladas para a China este ano”, disse o vice-CEO da Rusagro, Alexander Tarasov, que completa: “Os preços estão com um prêmio de 30-40% em relação aos valores domésticos.”

Retomada
A indústria de carne suína russa entrou em colapso após a queda da União Soviética em 1991. O setor começou a crescer novamente em 2005, ajudada pelo apoio estatal e medidas protecionistas. Kovalyov estima que foram investidos US$ 25 bilhões no segmento desde 2005.

Porém, os frigoríficos russos sofreram um grande revés em 2008, devido a um surto de peste suína africana, que causou grandes perdas aos produtores e efetivamente fechou o mercado chinês para a Rússia por 15 anos.

No entanto, a produção de suínos se recuperou rapidamente e recebeu um grande impulso com a proibição das importações de carne suína da UE para a Rússia em 2014.

A ministra da Agricultura, Oksana Lut, prevê que as exportações da proteína suína russa para todos os países aumentarão para 310.000 toneladas em 2024, incluindo suínos vivos, segundo a Reuters.

Os produtores russos já detêm 50% das importações de carne suína do Vietnã e estão exportando para cerca de 20 outros mercados. “Como recém-chegados, temos um dos setores de produção de carne suína mais modernos do mundo”, disse Kovalyov.“A Rússia definitivamente tem os recursos naturais, a base de ração e as reservas de água doce para aumentar a produção de carne várias vezes”, disse Marina Demidova, chefe de exportações da Miratorg.

Portal DBO | Foto: Divulgação