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17 de Setembro de 2012

Campo em alta na BM&FBovespa em 2012

As ações das empresas ligadas ao agronegócio registram uma forte recuperação em 2012. Das 15 companhias do setor listadas na BM&FBovespa, nove viram seus papéis subirem acima do Ibovespa neste ano, segundo levantamento do Valor Data e, entre as empresas com receita anual superior a R$ 100 milhões, apenas a BRF-Brasil Foods amarga perdas na bolsa. A Minerva Foods lidera o movimento. Em pouco mais de nove meses, o valor de mercado do terceiro maior frigorífico do país mais do que dobrou - até o fechamento de sexta-feira, suas ações acumularam alta de 110,44%. A empresa paulista é seguida por Agrenco (73,33%), SLC Agrícola (45,55%), Fertilizantes Heringer (45,05%), São Martinho (44,01%), Cosan (33,40%), Marfrig (29,63%), Vanguarda Agro (15,62%) e Tereos (9,52%). Em comparação, o índice da bolsa subiu 9,43% neste ano. A maioria delas, contudo, ainda opera em níveis inferiores aos registrados em seus respectivos IPOs. Neste ano, a desvalorização do câmbio beneficiou praticamente todas as empresas do setor, à medida que aumentou a rentabilidade de suas exportações. Mas as razões que tornaram essas ações atraentes para os investidores são mais diversas e variam de acordo com as especificidades de cada segmento - e, claro, de cada companhia. Os frigoríficos, que até 2011 eram punidos pelo mercado devido a uma combinação de margens estreitas, balanços ruins e dívidas elevadas, começaram a respirar neste ano em meio aos sinais de que a pecuária brasileira estava entrando em um novo ciclo, marcado pelo aumento na oferta de animais para abate e queda nas cotações do boi gordo - que responde por até 80% dos custos de produção de um abatedouro. A mudança abriu caminho para que a indústria ampliasse a produção e operasse com margens mais altas, o que se refletiu nos balanços do primeiro e do segundo trimestres. JBS, Minerva e Marfrig apresentaram melhoras expressivas em seus resultados operacionais, embora o nível de endividamento dessas companhias se mantenha elevado. Como é o único entre os grandes do segmento de carnes que opera apenas com carne bovina e concentra suas operações na América do Sul, o Minerva Foods foi a empresa que mais se beneficiou com o cenário atual. "As ações do Minerva sobem em cima da expectativa de resultados com o ciclo positivo da pecuária no Brasil", resume Cauê Pinheiro, analista da corretora SLW. Ele lembra que seus concorrentes diretos, JBS e Marfrig, embora também beneficiados pelo menor custo de abate no país, enfrentam problemas com suas operações de frangos e suínos - atividades duramente afetadas pela alta dos preços dos grãos no mercado internacional, decorrente da quebra da safra americana de grãos, e pelo excesso de oferta em alguns mercados importadores. O cenário é particularmente desafiador para a JBS, que obtém parte expressiva de sua receita nos EUA, onde o cenário é ruim tanto para o segmento de aves e suínos quanto para o de bovinos - assolado pela seca, o rebanho americano é o menor em décadas. Não à toa, a empresa tem procurado ampliar sua capacidade de abate no Brasil e reduzir sua dependência em relação ao mercado americano. Só neste ano, a companhia já comprou ou arrendou 12 novas plantas em território nacional. Com uma operação pequena na área de bovinos, a BRF-Brasil Foods foi a processadora de carnes mais castigada pelo cenário adverso para aves e suínos. A empresa enfrenta, ainda, uma elevação temporária de custos em consequência da transferência de ativos para a Marfrig e da suspensão de algumas de suas marcas, impostas pelo Cade como condição para a aprovação da incorporação da Sadia pela Perdigão, em 2009. No segundo trimestre, a BRF amargou uma queda de 98% em seu lucro líquido. Mas, embora ainda estejam no vermelho em 2012, as ações da companhia vêm se recuperando do baque sofrido no segundo trimestre. Os papéis subiram 11,15% em agosto e, neste mês, subiram 10,7% até sexta-feira, ancorados na expectativa de que a empresa consiga repassar para os preços o aumento de custos até o fim deste ano. No lado oposto ao dos produtores de carnes, SLC Agrícola e Vanguarda Agro - duas das maiores produtoras e exportadoras de grãos do país - foram diretamente beneficiados pela escalada dos preços da soja e do milho no mercado internacional. "A alta não teve impacto sobre o resultado deste ano porque praticamente toda a safra 2011/12 já havia sido negociada, mas com certeza trará resultados muito bons na próxima safra", afirma José Carlos Hausknecht, analista da MB Agro. A expectativa é que o Brasil plante uma safra recorde de soja na safra 2012/13. O efeito da alta dos preços sobre o comportamento das ações ainda é relativamente tímido no caso da Vanguarda Agro. A empresa está arrumando a casa após o fim da disputa societária envolvendo o produtor Otaviano Pivetta e o investidor espanhol Enrique Bañuelos, que deixou o negócio em maio passado após meses de uma queda de braço que fez derreter o valor de mercado da companhia. Agora, a Vanguarda lida com o desafio de reduzir sua elevada dívida e se desfazer dos ativos de biodiesel remanescentes da Brasil Ecodiesel. Para Hausknecht, a expectativa de aumento da produção de cana-de-açúcar na próxima safra (2013/14) também ajuda a explicar a alta das ações das empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro (Cosan/Raízen, São Martinho e Tereos) nos últimos meses. "Há uma expectativa de retomada da produtividade no ano que vem após anos de resultados agrícolas ruins. O mercado também trabalha com a possibilidade de reajuste nos preços da gasolina, o que abriria espaço para o etanol subir", afirma. O reajuste nos preços da gasolina - mais de uma vez sinalizado pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e pela presidente da Petrobras, Graça Foster, e repetidas vezes desmentido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos últimos meses - é uma demanda antiga dos usineiros, que não conseguem repassar para os preços do etanol o aumento de custos observado nos últimos anos. O governo, por sua vez, resiste a aumentar a gasolina devido ao impacto que a medida teria sobre a inflação. "A expectativa agora é que, com a queda na conta de luz prometida para 2013, o governo possa elevar a gasolina sem muito impacto sobre a inflação", afirma o analista da MB Agro. Contudo, a medida continua incerta e parece depender crucialmente de um arrefecimento das pressões inflacionárias (que recrudesceram recentemente, com a valorização das commodities agrícolas) nos próximos meses.