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01 de Novembro de 2023
Brasil mostra competitividade entre 17 países com menor custo de produção de suínos
Dados mostram que o país apresenta menos gastos com alimentação animal e salários menores
O custo de produção em dólares por quilo vivo de suíno é o menor no Brasil na comparação com 17 países, conforme dados de 2022 do Grupo para Comparação dos Custos de Produção na Suinocultura (rede InterPIG), que reúne instituições de 17 países produtores, incluindo o Brasil, representado pela Embrapa e com estatísticas dos Mato Grosso e Santa Catarina, estado que tem custos próximos aos do Rio Grande do Sul. No ano de 2022, o custo de produção por quilo de suíno vivo ficou em 1,28 dólar em Santa Catarina e 1,13 dólar em Mato Grosso, enquanto a média nos países da rede InterPIG foi de 1,72 dólar por quilo vivo de suíno.
Apesar dos aumentos de 10% e 12% em MT e SC, respectivamente, em comparação a 2021, os valores permaneceram menores do que nos Estados Unidos (1,42 dólar por quilo vivo), Dinamarca (US$ 1,49), Espanha (US$ 1,66), Holanda (US$ 1,74) e Alemanha (US$ 1,83). Se tem o custo de produção mais baixo, o Brasil tem os menores preços recebidos pelo quilo vivo, com 1,06 dólar, em Mato Grosso, e 1,10 dólar, em Santa Catarina. A média norte-americana é de 1,58 dólar por quilo vivo.
“O principal objetivo desta divulgação é trazer informações para os agentes da cadeia produtiva no Brasil sobre o grau de competitividade dos seus principais concorrentes”, diz o pesquisador da área de socioeconomia da Embrapa Suínos e Aves (SC) Marcelo Miele. Ele destaca que todos os países apresentaram significativo aumento nos custos de produção em 2022 e que os preços recebidos pelo suíno também aumentaram. Porém, na maioria dos países a variação foi menor do que os custos, gerando prejuízos na suinocultura, sendo os Estados Unidos uma exceção.
O pesquisador explica que o aumento generalizado dos custos de produção em 2022 ocorreu sobretudo em função dos preços do milho e do farelo de soja. Os insumos da ração animal foram impactados por eventos climáticos e geopolíticos como a guerra na Ucrânia, que encareceu os fertilizantes e reduziu a oferta global de grãos. “Além disso, também se destaca a inflação global nos preços (energia elétrica, vacinas e medicamentos e construções), na remuneração da mão de obra e seu impacto nas taxas de juros”, completa Miele.
O quadro geral em 2023 foi de queda no preço da ração e de estabilidade dos demais preços, porém em patamares elevados, exceto por um certo alívio na energia elétrica e pelo aumento nos salários. Os preços recebidos pelo quilo do suíno vivo também apresentam tendência de recomposição na maioria dos países. Por isso, o pesquisador aponta para uma perspectiva de ampliação das oportunidades para as exportações brasileiras, no próximo ano.
Os principais fatores que explicam os custos mais baixos do Brasil em comparação a esses países estão relacionados à eficiência produtiva e a preços. O país tem apresentado coeficientes zootécnicos competitivos em comparação à maioria dos concorrentes, fruto da incorporação de tecnologia e da sanidade dos rebanhos alcançada com investimentos em biosseguridade nas granjas e em defesa agropecuária.
Também merecem destaque a menor remuneração da mão de obra e o menor custo das instalações. No caso dos salários, o Brasil tem patamares inferiores, com 3 dólares por hora trabalhada, enquanto a Espanha, importante concorrente, paga 16,29 dólares. Mas é o custo da alimentação animal o principal determinante. A suinocultura mato-grossense gastou, em média, 0,87 dólar para produzir um quilo de suíno vivo tendo em vista a baixa conversão alimentar e o menor preço da ração. Em Santa Catarina, o valor ficou em 1,02 dólar e foi determinado pela baixa conversão alimentar.
O estudo da InterPIG não contempla a suinocultura gaúcha, mas os números são bastante próximos dos de Santa Catarina, conforme explica o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador. “Estamos em uma mesma condição de produção, distantes dos grandes centros consumidores e do milho, que tem sofrido com os efeitos do clima nas últimas safras. Nossos custos de alimentação são muito idênticos”, afirma. O Estado perde competitividade quando comparado a Mato Grosso, que está junto à maior produção de milho. “Eles têm vantagem logística e custo de produção menor”, analisa Folador.
Já olhando para 2023, Folador relata que o primeiro semestre teve custos em alta. “A grande maioria dos produtores e o próprio sistema de agroindústria integradora ou cooperativas fez estoque de milho em janeiro a março, porque havia a expectativa de que haveria escassez de milho. Todo mundo comprou milho caro”, afirma. O produto em valores menores começou a entrar no mercado na metade do ano. “O custo de produção do primeiro semestre foi alto em função principalmente do fator alimentação, e os preços da carne e do suíno vivo tiveram variações, o que não proporcionou nada diferente do que tivemos em 2022, com a conta econômica não fechando”, avalia.
No segundo semestre deste ano, a grande oferta de milho do Centro Oeste trouxe melhores condições para o setor. “A conta econômica da suinocultura ficou menos pesada, chegamos em um patamar de zero a zero, em algum momento ganhando alguma coisa no segundo semestre mais pela queda de custos do pela subida ou valorização da carne suína na venda na ponta final”, destaca.
Correio do Povo / Imagem: Divulgação