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27 de Fevereiro de 2023
Pesquisa revela deficiência de água para matrizes suínas em diferentes sistemas de alojamento
Por questões ligadas ao bem-estar animal e pela ausência de condições das matrizes suínas poderem expressar alguns dos seus comportamentos naturais, como caminhar, fuçar, deitar em um espaço adequado e interagir com outros animais da sua espécie, os sistemas de alojamento das matrizes suínas em box de gestação e maternidade estão há alguns anos no centro de debates da comunidade científica, de consumidores e demais segmentos do setor.
Entre as mais recentes iniciativas para melhorar o bem-estar animal e a sustentabilidade na suinocultura brasileira está a implantação do sistema de gestação coletiva de matrizes suínas. Entre os benefícios do alojamento em grupo estão a redução de fatores estressores, a diminuição de problemas sanitários e a interação entre os animais. “O processo de migração dos sistemas de alojamento das matrizes envolve diferentes etapas, entre elas a adequação das instalações e a qualificação da mão-de-obra. Mudanças como essas vão trazer novos desafios no manejo a técnicos e produtores”, expõe o médico-veterinário e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Osmar Antonio Della Costa. Ele foi um dos palestrantes do Seminário sobre sistemas de alojamento de matrizes suínas durante a 6ª edição do Congresso e Central de Negócios Brasil Sul de Avicultura, Suinocultura e Laticínios (Avisulat), realizado de 28 a 30 de novembro, em Porto Alegre, RS.
De acordo com Costa, as agroindústrias, universidades e o setor público têm trabalhado no desenvolvimento de novos sistemas de alojamento das matrizes suínas na gestação e maternidade com o objetivo de propor sistemas que possam incrementar o bem-estar das matrizes suínas.
Em um estudo recente conduzido por Costa para levantar os índices de produtividade das matrizes suínas alojadas em box de gestação e baias coletivas, foram avaliadas 27 granjas, sendo 18 unidades de produção em baias coletivas e nove em box de gestação, com 950 leitegadas – 701 matrizes alojadas em baias coletivas e 249 matrizes alojadas em box de gestação, totalizando 12.260 mil leitões que participaram do estudo. “Na maternidade levantamos o número de leitões nascidos vivos, peso ao nascimento, número de leitões desmamados, peso ao desmame, ganho de peso diário na lactação e taxa de mortalidade. Levando em consideração todas essas variáveis, constatamos que o índice de leitões nascidos mortos foi de 3,23% maior em baias coletivas, enquanto que o peso médio dos leitões desmamamos aos 24 dias nos boxes de gestação chegaram a 1,16 kg acima dos animais nascidos nas baias coletivas”, menciona.
Fornecimento de água
A fim de verificar se o sistema de distribuição de água atualmente utilizado nas granjas suinícolas pode afetar e comprometer os indicadores de bem-estar e os índices de produtividade das matrizes, o pesquisador avaliou a vazão média de bebedouros instalados em baias e boxes de gestação e de maternidade, com aferição da disponibilidade da água ajustado para um minuto.
Para referência da pesquisa foram usados três índices: nas unidades de gestação vazão menor que 1,5 litro por minuto (L/min) se caracterizava baixa vazão; vazão maior que 1,5 L/min e menor ou igual que 2,5 L/min se caracterizava vazão normal; e vazão maior que 2,5 L/min se tratava de alta vazão. Enquanto que na maternidade a baixa vazão foi considerada menor que 2,5 L/min, vazão normal maior ou igual a 2,5 L/min e menor ou igual a 3,5 L/min; e alta vazão maior que 3,5 L/min. “Constamos que nas baias de gestação 20% dos bebedouros tinham alta vazão, 35% baixa vazão e 45% vazão normal. Nos boxes de gestação, 18,66% apresentavam alta vazão, 21,64% baixa vazão e 59,70% vazão normal. E do total de bebedouros avaliados na maternidade foram constatados que 11,27% tinham alta vazão, 67,69% baixa vazão e 21,03% vazão normal”, relata Costa.
Do total de bebedouros avaliados, apenas 18,82% nos boxes de gestação, 26,4% nas baias de gestação e 54,78% na maternidade estavam com a vazão normal de água. Para ajustar a frequência do volume de água nos bebedouros, Costa recomenda a manutenção da rede hidráulica e treinamento dos profissionais responsáveis pela produção na granja. “Se as matrizes não bebem água suficiente não produzem leite, com isso não desmamam os leitões”, aponta o pesquisador.
Análise de densidade da urina
Para analisar a densidade da urina de matrizes suínas nas baias coletivas e nos boxes de gestação foram coletadas 2.062 amostras. O estudo mostrou ausência de sangue em 99,82% dos animais analisados, ausência de proteína em 99,74%, porém apresentou presença de nitrito em 9,21% das amostras.
No teste de densidade da urina, 3,34% das matrizes suínas apresentaram quantidade de água suficiente no organismo, 17,5% em limites críticos e 79,14% em quantidade de água insuficiente. “Apenas 3,05% de 1.607 das amostras de matrizes suínas alojadas em baias coletivas apresentaram nível satisfatório de água, outros 15,3% mostraram limites críticos e 81,72% quantidade de água insuficiente. Enquanto que na análise das amostras de 669 matrizes suínas alojadas em box de gestação, 4,04% apontou níveis de água suficiente, 22,7% estado crítico e 73,30% deficiência hídrica. Esses resultados comprovam que independente do tipo de alojamento, maternidade ou gestação, as matrizes estão com deficiência de água”, avalia o pesquisador.