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09 de Janeiro de 2023

Consumo em alta no Brasil e no mundo sustenta projeções ousadas da suinocultura verde e amarela

O crescimento da produção, consumo interno e exportações de carne suína é uma unanimidade entre grandes lideranças do setor. No entanto é preciso crescer com profissionalismo e eliminar algumas barreiras que ainda dificultam a produção de carne suína no Brasil

O crescimento da produção, consumo interno e exportações de carne suína é uma unanimidade entre grandes lideranças do setor. Em um painel promovido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), durante a Por Expo, que aconteceu em outubro, em Foz do Iguaçu, PR, eles destacaram que o consumo de carne suína deve subir substancialmente, atingindo cerca de 25 quilos/per capita/ano dentro de quatro ou cinco anos.

Um dos entusiastas desse avanço é o CEO da Frimesa, Elias Zydek, que observa a suinocultura brasileira bastante competitiva, especialmente em relação à carne bovina, apesar dos altos custos de produção alavancados pela alta do milho e farelo de soja. “Na suinocultura conseguimos ser mais competitivos em relação à carne bovina e temos previsão que isso continuará acontecendo até 2028 ou 2030, quando o Brasil deva estar consumindo 25 quilos per capita de carne suína. Ao ano. São praticamente sete quilos a mais em relação a cerca de 18 quilos de hoje, isso dá 1,5 milhão de tonelada a mais de produção somente para o mercado interno”, destacou Zydek. A Frimesa, com sede no Paraná, inaugura em dezembro deste ano o maior frigorífico de suínos da América Latina, com capacidade de abater 15 mil cabeças por dia. O empreendimento deve iniciar processando cerca de quatro mil animais por dia, com aumento gradual até atingir sua capacidade total.

O CEO da Frimesa destacou ainda que o mundo está consumindo mais carne e países que antes eram protagonistas da produção estão diminuindo seus volumes, abrindo mais espaço para a participação da carne suína brasileira no mercado global. “Fatores pontuais sacudiram o mercado mundial de carnes e houve um rearranjo. A China vai continuar a ser protagonista, mas está havendo uma redução de produção na Europa e os países asiáticos estão aumentando consumo e a compra do Brasil. Nossa visão é que o mercado externo deve demandar 1,7 milhão de toneladas a mais em cerca de cinco anos. É um cenário otimista, sem guerras ou problemas sanitários, por exemplo”, destacou Zydek.

No entanto, ele mencionou que é preciso crescer com profissionalismo e eliminar algumas barreiras que ainda dificultam a produção de carne suína no Brasil. Ele mencionou Temos “dois grandes problemas”, que são a tributação diferenciada entre cada Estado produtor e item por item em portfólios das agroindústrias que chegam a 300 produtos, além da condenação nas plantas frigoríficas, que ele entende ser demasiada no Brasil. “É preciso revisar todos esses critérios. As vezes essas questões passam despercebidas, mas temos que trabalhar para corrigir esses pontos de desiquilíbrio. Existe espaço para crescimento, mas precisa ser consciente, responsável, organizado, com informações seguras, dados precisos, para controlar preventivamente a produção”, citou Zydek.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul e presidente da Alibem Alimentos, José Roberto Goulart, também concorda com o aumento do consumo interno nos próximos anos, mas alerta para a necessidade de regionalizar as campanhas para aumentar esse consumo onde hoje ele é mais baixo, como no Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil. “O consumo na região Sul já é de 30 quilos por habitante por ano. E como ficam as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste? Precisamos desenvolver essa cultura (de consumir carne suína) lá onde o consumo é menor. Fizemos uma campanha para aumentar o consumo no Rio Grande do Sul, não aumentou um quilo. Isso porque o Rio Grande do Sul já consome bastante. Campanhas (de promoção do consumo) têm que ser levadas para outras regiões. O foco é importante nesse tipo de campanha”, destacou. “A carne suína está caminhando para ter uma participação maior, mas é vital termos ações em regiões que têm consumo baixo”, reforçou o presidente da Alibem.

Ele destacou, no entanto, que é a agroindústria precisa se planejar para superar as crises, como a recente, e evitar ficar reféns de alguns poucos mercados externos. “A suinocultura cresceu em cima de grandes mercados, como a Rússia, que foi a locomotiva que puxou o Brasil para exportação. Depois a China, com problemas da PSA, e todo mundo ganhou. Mas a China botou o pé no freio em 2021. Ficamos reféns da China. Todo mundo sabia que isso iria acontecer, só não sabia quando”, destacou.

Ele lembrou que a China recuperou rapidamente sua produção usando todas as fêmeas como matrizes. “A China começou a usar todas as fêmeas como matrizes. Isso justifica o crescimento chinês (nos últimos dois anos). A suinocultura brasileira tem que se preparar e saber passar as crises, ter caixa, planejar, ter estoque de milho, abrir mercados”, orientou.

Crescimento constante, mas preço e custos são desafios
Outras lideranças presentes no painel reforçaram que o Brasil vem crescendo constantemente nos últimos anos em consumo interno e vendas externas. “Tivemos um crescimento de 62% em dez anos, estamos crescendo todo ano, isso nos traz muitas responsabilidades”, apontou o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, que intermediou os debates.

O consultor de mercado da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), Alvimar Jalles, um dos responsáveis pela criação da Bolsa de Suínos mineira, que ajuda a regular o preço no Estado, fazendo uma intermediação entre produtores e agroindústrias, afirmou que o mercado precisa entender que a formação de preços é uma questão lógica e não emocional. “O mercado não é justo. O capitalismo é justo? Não. A especulação existe. Muitas vezes a gente se acha no triangulo perverso, onde o salvador é o presidente de associação, o perseguidor é o frigorifico e vítima é o produtor. Isso não existe, preço é feito por analise, por entendimento das forças que estão em curso, preço é feito de luta, não se iludam”, destacou Jalles.

O consultor de mercado da ABCS, Iuri Pinheiro Machado destacou algumas lições que a suinocultura aprendeu nos últimos anos, como os reflexos da PSA em 2018, da pandemia em 2020 e da guerra na Ucrânia em 2022. “O Brasil vai continuar crescendo, nós temos capacidade para isso, com competitividade e custo. As importações da China recuaram a partir de 2021. Vai cair em 2022 e cair em 2023 também. Só em 2022 até setembro reduziu em 30%, mas aumentou para outros países, como Rússia, Uruguai, Argentina, Filipinas e Singapura”, frisou, lembrando que o mercado brasileiro “está absorvendo” o excesso de oferta de carne suína nos últimos dois anos. “Está projetado fechar em 19,05 quilos por habitante/ano em 2022. Vamos muito rápido chegar a 20 quilos/habitante/ano”, destacou, frisando que “a produção independente cresceu bastante” nos últimos meses no Brasil. “Mesmo com custos elevados, continuamos mundialmente competitivos”, apontou Pinheiro Machado.


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